terça-feira, 28 de junho de 2016

Estudo de soneto I

Acordei com o impacto das estrelas
explodindo sobre as casas e os homens.
A luz queimava o que em pé e só restava,
a noite ruía e a Lua, no branco, sumia.

Ouvia, descabelado, gritos roucos,
enquanto cogumelos amarelos
iluminavam o escuro do dia,
do juízo, do final, da alegria.

Alguém sentado num entulho ria e,
diante de tamanha ironia, eu ri
pois era finalmente o fim do mundo.

Não houve solução, tampouco uma rima.
Enquanto as pedras brilhantes caíam,
nossos corpos nus cintilavam no ar.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

1986

As nuvens de Chernobyl invadiram o Outono
inaugurando mais uma temporada de seca.

No rádio, canções sobre índios lamentavam
o tempo perdido e condenavam nossa geração.

As cismas rompiam-se, fossem nas bandeiras
vermelhas desbotadas, fossem na poesia.

Começava a utopia do fim, após tudo. 

São 28 agostos
desde então.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O amor consome cigarros, silente.
Erra entre galáxias, concretos e regressos.

Arma exércitos contra a memória
e marcha pela madrugada
arrancando pássaros de seus ninhos.

Limpa o rastro de sangue que leva ao Calvário
enquanto afia a lança romana.

Espera o sudário de Laerte amarrado ao mastro,
ébrio pelo silêncio.

Desenha degraus que levam ao tampo azul
da mesa, seu cemitério de nomes.

Ouve um grito num teatro qualquer,
apaga as luzes e revisita nomes esquecidos
ao som dos tambores de Santerre.